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A JORNADA DA SAÚDE MENTAL DOS ADOLESCENTES AO LONGO DA HISTÓRIA

  • Foto do escritor: Identidade em Foco
    Identidade em Foco
  • 2 de dez.
  • 5 min de leitura
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“Você já se sentiu ansioso, triste, confuso sobre o futuro... e achou que isso era ‘coisa da

sua idade, da sua geração’? Pois é, na realidade adolescentes sempre passaram por

conflitos emocionais, só que a forma de entender e tratar isso mudou muito com o tempo”


  • Na Antiguidade e Idade Média

Na Antiguidade, especialmente em sociedades como a grega e romana, a passagem

da infância para a vida adulta era mais direta. Os meninos, por exemplo, eram preparados

desde cedo para assumir papéis sociais – como guerreiros, cidadãos ou trabalhadores – e,

por volta dos 13 a 15 anos, já participavam de rituais de iniciação que marcavam o começo

da vida adulta. Não havia um “tempo de espera” como a adolescência moderna. Isso não

quer dizer que eles não sofressem: havia inseguranças, pressões e medos, mas eram

interpretados de outra forma, como parte do dever ou do destino.

Já na Idade Média, a vida era muito moldada pela religião e pelo trabalho. Jovens

camponeses começavam a trabalhar cedo; filhos da nobreza eram treinados para a guerra

ou para o clero. Aos doze ou treze anos, muitos já estavam noivos ou casados. Ainda assim,

a busca por identidade, os conflitos com autoridade e os sonhos sobre o futuro existiam,

mesmo que não fossem descritos com a linguagem emocional e psicológica de hoje. Não

havia a ideia moderna de adolescência como um tempo de descobertas pessoais e formação

de identidade.


  • Tempos Contemporâneos

Até o século XVIII, não se falava em saúde mental do adolescente, os jovens eram

tratados como adultos em treinamento. A medicina mental ainda era rudimentar. Os jovens

que mostravam tristeza, rebeldia ou comportamentos fora dos padrões eram considerados

preguiçosos, imorais ou pecadores. E, para completar, só a partir dos séculos XVIII e XIX é

que a medicina e a psicologia começaram a se interessar pela fase da adolescência de modo

mais detalhado, e estudá-la.

Já no século XIX, com o avanço da psiquiatria e psicologia, as emoções humanas

começaram a ser estudadas cientificamente. A juventude era vista como um período

perigoso, em que o corpo e a mente estavam em transformação. Os internatos, escolas

religiosas e famílias rígidas tentavam educar o caráter dos jovens, às vezes com métodos

duros, o que podia agravar o sofrimento emocional. Muitos jovens daquela época registavam

sentimentos em cartas ou diários, relatando: solidão, paixão, vontade de liberdade, medo do

futuro. O movimento romântico mostrava jovens atormentados, sensíveis, incompreendidos,

retratados na literatura.

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Já “O século XX mudou tudo: guerras, crises, novas ideias sobre o inconsciente e a

infância. Foi aí que os adolescentes começaram a ser vistos como um grupo com suas

próprias, emoções e desafios.”.

Nesta época, a saúde mental dos adolescentes passou por uma grande

transformação, pois a ADOLESCÊNCIA se consolidou como uma fase reconhecida da vida

humana. E com isso, a medicina, a psicologia e a sociedade começaram a olhar de perto

para as emoções, os conflitos e os seus sofrimentos.

Entre os anos 30 e 50, o psicólogo Stanley Hall publicou o livro Adolescência e a

descreveu como um período de tempestade e tensão. Freud compreendeu que os conflitos

dos adolescentes estavam ligados ao inconsciente, à sexualidade e a busca de autonomia.

Começaram a surgir consultórios e clínicas especializadas para este público, na Europa e

EUA.

Já entre 50 e 70, pós-guerra, consumismo em alta, influência do rock ‘n roll,

movimento hippie, os jovens começaram a se expressar mais, questionar a autoridade, lutar

por liberdade, mas enfrentavam crises de sentido e ansiedade diante das transformações

sociais.

Nas décadas de 80 e 90, a medicina passou a identificar transtornos específicos em

adolescentes, como depressão, ansiedade, distúrbios alimentares e uso de substâncias. Ao

mesmo tempo, o aumento da competição escolar, das pressões familiares, da influência da

mídia, trouxe novas formas de sofrimento psicológico.


  • E atualmente?

Chegamos ao século XXI. Hoje, o assunto saúde mental é mais aberto, mas também surgiram novas pressões: likes, desempenho, comparação e a busca constante por aprovação.

Segundo a psiquiatra Dra. Fernanda Gonçalves Campos, preceptora da Residência de Psiquiatria do Hospital das Clínicas Samuel Libânio, em Pouso Alegre–MG, houve uma evolução muito positiva na forma de lidar com a saúde mental, mas outros problemas apareceram junto a essa mudança.“Esta é uma geração que, por um lado, adoeceu em alguns aspectos, mas por outro também é crítica e se preocupa com a saúde física. É uma geração que está vindo mais preparada, porque quer fazer atividade física, porque está mais empenhada em relação à alimentação, e outras coisas.”

Por outro lado, ela continua, essa geração apresenta hoje o problema das telas, que, embora tenham aproximado as pessoas, também provocaram uma modificação muito grande na estrutura mental, gerando uma “adultização” precoce de crianças e adolescentes. Na internet há muita coisa adoecida, disfuncional, doente mesmo, que é usada para atrair jovens porque alguém vai lucrar com isso. Um dos problemas que mais aparecem no consultório é a pornografia, que cria fantasias que não refletem a realidade, sem unificação entre afetividade e sexualidade, e sem respeito ao próprio corpo.

Dra. Fernanda ainda pontua outros problemas: influenciadores que, sem conhecimento adequado, ensinam estratégias inadequadas para melhorar a saúde mental; páginas que difundem métodos e conteúdos relacionados ao suicídio; além de jogos patológicos que geram dívidas absurdas e dependência.

“Ao mesmo tempo, em que temos uma geração mais madura, com mais informação e acesso rápido ao conhecimento, temos também uma geração com mais dificuldade para fazer conexões, aprender e se aprofundar no aprendizado, que fica no ‘copia e cola’. Essa rapidez com que as coisas acontecem está gerando um baixo limiar à frustração. É uma geração que não tolera dificuldades: às vezes passa por um problema e não consegue lidar com ele, não o tolera. Se o amigo não responde no WhatsApp, já fica com raiva, já bloqueia. Não se trabalha relações interpessoais, não se constrói vínculos no dia a dia. Isso é o que mais vejo na rotina, no consultório.”


  • E como o adolescente deve cuidar de sua saúde mental?

“Com hábitos saudáveis, estilo de vida saudável, atividade física, alimentação

saudável, lazer, balança equilibrada entre direitos e deveres, vínculo familiar, tudo isso são

fatores de proteção. E não ir nos modismos, tecnologia traz muita moda, então é importante

ter crítica, tomar cuidado com as informações.

E quando já tem o adoecimento, tratar, com terapia, psicólogo, psiquiatra, às vezes,

psicopedagogo, de acordo com a necessidade de cada adolescente”, finalizou Dra. Fernanda.


A história mostra que cuidar da mente é um processo necessário, sofrimentos sempre

existirão e o importante é identificá-los, não negá-los, procurar ajuda de amigos, familiares

e, se necessário, ajuda de profissional especializado. E com isso, cuidar da história que ainda

há de ser escrita.


  • Por: Betania de Paiva Soares


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