Os perigos do entretenimento Jogos online de apostas representam sérios perigos aos jovens devido ao alto potencial de vício
- Identidade em Foco

- 1 de dez.
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O vício em jogos de apostas online entre os jovens tem sido uma das causas de maior preocupação entre pais, educadores e especialistas da área da saúde. O desejo por ganhar dinheiro fácil e rápido com apostas tem se manifestado cada vez mais cedo na população. Além dos prejuízos financeiros e da dependência dos usuários, esse vício não apenas compromete o desenvolvimento psicológico e social desse público, mas também interfere diretamente em sua trajetória educacional.
Apesar da proibição legal para menores de 18 anos, o cenário de jogos de aposta online entre jovens no Brasil é de crescimento alarmante. Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, adolescentes com idade entre 14 a 17 anos estão acessando sites ilegais e representam o grupo mais vulnerável, com 55% dos apostadores em algum grau de risco ou transtorno relacionado ao vício.
As operadoras de apostas exploram esse cenário, integrando-se ao universo digital preferido dos jovens e normalizando o jogo em seus espaços recreativos. Um estudo divulgado pelo Senado Federal em 2024, aponta que 30% dos jovens entre 16 e 24 anos apostam em plataformas digitais.
A situação se agrava quando Influencers digitais amplificam e constroem uma conexão emocional entre os apostadores, o que torna suas mensagens promocionais eficazes em moldar percepções, onde os jovens tendem a ver o jogo como algo aceitável socialmente, menos arriscado e de um modo mais popular.
No Brasil, os dados são alarmantes, os atendimentos no Sistema Único de Saúde (SUS) por problemas relacionados a jogos de azar aumentaram sete vezes no período de 2020 a 2024. De acordo com um levantamento realizado pela Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP) em 2023, mais de 80% dos universitários entrevistados já haviam feito apostas online, e 72,8% o fazem com frequência.
As consequências são graves, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 1,2% da população adulta apresenta transtorno do jogo, sendo que cerca de 11,9% dos homens e 5,5% das mulheres já sofreram algum tipo de prejuízo associado à prática — que pode incluir estresse financeiro, conflitos familiares, violência doméstica, ansiedade, depressão, uso de substâncias e suicídio.
Impactos no comércio digital
Em poucos anos as Bets se tornaram muito populares nas cidades brasileiras. Estampam camisas de jogadores de futebol, camarotes de Carnaval, conteúdo pago de influenciadores e até ônibus municipais em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.
Empresas de apostas online devem faturar US$ 4,139 bilhões (cerca de R$ 22 bilhões) no Brasil em 2025, posicionando o país como quinto maior mercado do mundo para o setor, conforme os dados obtidos com a BBC News Brasil.
A integração dessas plataformas de jogos online com meios de pagamento modernos, como o PIX, e o aumento do uso de carteiras digitais fortalecem esse ecossistema. Atualmente, o mundo das apostas online movimenta valores significativos e segue o ritmo de crescimento de serviços digitais no país.
As apostas online foram legalizadas no Brasil em 2018, mas a regulamentação só veio em 2024. Por sete anos as empresas do setor operaram praticamente sem regras, ressalta o economista Victor Silva, pesquisador no Centro de Desenvolvimento Internacional da Harvard Kennedy School. Nesse intervalo, na avaliação de Silva, as Bets colocaram em prática um arsenal de estratégias para atrair apostadores sem nenhum tipo de controle.
Perfil dos apostadores no Brasil
Uma pesquisa foi realizada pela Ipsos-Ipec entre 5 e 9 de junho de 2025. Foram entrevistadas 2000 pessoas com 16 anos ou mais em 132 municípios brasileiros.

As pessoas com renda familiar de 2 a 5 salários-mínimos fazem parte do segmento com mais torcedores que apostam (20,3%), seguidos de pessoas com 1 a 2 salários mínimos (17%) e de mais de 5 salários mínimos, com 15,8%. Na faixa salarial mais baixa, de até 1 salário, ocorre uma diferença: são menos apostadores (12,7%), mas que apostam com mais frequência.
O Centro-Oeste tem proporcionalmente a maior quantidade de apostadores (20,30%), mas os nordestinos foram os torcedores que mais afirmaram sempre estar na jogatina: 4,3%, contra os 3,8% do Norte/Centro-Oeste. O Sudeste vem na sequência com
2,2%, e o Sul fecha não apenas como a região que tem menos apostadores assíduos (1,8%), como com a maior quantidade de torcedores que rejeitam apostar (86,8%).
Entre jovens, no entanto, as bets são um sucesso. De acordo com a pesquisa, jovens entre 16 e 24 anos apostam com muito mais frequência que outras idades. A faixa etária mais jovem da pesquisa tem um número de apostadores muito semelhante aos adultos entre 25 e 44 anos — 25,5% contra 24,4%, respectivamente. Eles são seguidos pelos adultos de 35 a 44 anos (15,90%); de 45 a 59 anos (11,90%) e 60 + anos, com 3,50%.
Mas quando se compara os torcedores com hábito de sempre apostar, a diferença é um abismo: os jovens têm mais que o dobro em pontos percentuais (7,2%) do que a faixa etária seguinte (3,3%). O valor ainda vai diminuindo conforme a idade.
Impactos da dependência
A dependência em apostas, como as Bets é reconhecida pela medicina como um transtorno do jogo, caracterizado por apostas repetidas e incontroláveis, mesmo diante de prejuízos pessoais, familiares e sociais.
Segundo especialistas, o vício em jogos funciona de forma semelhante a outros vícios, como o uso de drogas ou compras compulsivas, pois ativa o sistema límbico do cérebro, responsável pela sensação de prazer e recompensa. Esse mecanismo faz com que o apostador busque repetidamente a sensação de vitória, acreditando que a sorte vai mudar, o que leva à perda de controle, endividamento e sofrimento emocional tanto para o indivíduo quanto para quem convive com ele.
A superação do vício pode ser realizada por meio de tratamento e acompanhamento psicológico. Um profissional qualificado pode explicar como o vício funciona, para que o apostador tenha consciência que está viciado em jogar. A prevenção das recaídas e possíveis gatilhos é um dos pilares mais importantes para superar o vício.
Confira a entrevista dada pela empresária Fernanda Costa. Dona de um restaurante que vivenciou os impactos das apostas online entre os funcionários de seu estabelecimento. Projeto de Lei
Segundo informações divulgadas pela Agência Brasil, um projeto de lei aprovado pelo Senado neste ano, estabelece restrições para a propaganda de jogos de apostas esportivas de quotas fixas, as chamadas Bets. O texto, que ainda precisa ser aprovado pela Câmara dos Deputados para entrar em vigor, proíbe a realização de anúncios ou ações de publicidade com atletas, artistas, comunicadores, influenciadores ou autoridades.
O objetivo do projeto é evitar o impacto da prática de apostas esportivas na população brasileira, especialmente com foco na proteção de públicos vulneráveis, como crianças e adolescentes. A regulação das ações de marketing e propaganda desse tipo de aposta busca estabelecer critérios e limites claros para a veiculação de conteúdos publicitários, contribuindo para a transparência do setor e a preservação do interesse público.
Para o governo, “a articulação entre Direito e Saúde Pública é essencial para mitigar os danos crescentes dessa nova modalidade de publicidade. Afinal, o que está em jogo não é apenas o dinheiro dos jovens — é sua saúde mental, seu bem-estar e sua capacidade de fazer escolhas conscientes em um ambiente cada vez mais moldado por algoritmos e interesses comerciais”.



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